terça-feira, agosto 29, 2006

A síndrome de Peter Pan


Quando eu tinha oito anos as coisas andavam mais ou menos equitativas entre rapazes e raparigas. Com um canal só de televisão todos víamos mais ou menos a mesma coisa. Eles podiam sonhar que eram o Dartacão, nós sonhávamos que éramos a Julieta e a coisa ficava por ali. O tempo foi passando, nós, as raparigas, fomos crescendo e sonhando que éramos outras coisas e queríamos outras coisas. Já os rapazes não. E se sonhar que se é o Tom Sawyer sempre descalço junto ao rio a passear é normal aos oito anos, o mesmo não se pode dizer aos trinta. Sim, minhas amigas, lamento informá-las que a síndrome de Peter Pan está vivo e de boa saúde.
Uma mulher com o passar do tempo vai criando expectativas. Nos filmes, na música, nos livros, na televisão, há uma data de imagens que nos fazem sonhar com o que queremos num homem. E são homens sérios ou engraçados, misteriosos ou abertos, mas sobretudo, adultos. E o que se passa é que vai-se a ver e não encontramos equivalência no mundo real. Os adultos estão em vias de extinção. Os homens da nossa idade não cresceram, estão a sacar da net o ursinho Mischa ou o Verão azul e a sonhar que são o Tom Sawyer junto ao rio a passear. Ainda. Ora, se os homens fazem isso, se não crescem, quem nos vai trazer flores? Quem nos vai levar a passear ao luar, por mais piroso que pareça, quem vai conversar connosco sobre o sentido da vida? Se não os conseguimos arrancar da frente da playstation ou da net, quem vai partilhar o banho de espuma connosco? É frustrante. Antigamente, na geração das nossas mães, os homens mal podiam esperar para crescer. Numa geração em que os meninos andavam de calções enquanto eram pequenos, os homens mal podiam esperar para crescer e ter calças compridas e deixar crescer o bigode (e por mais que desaprove as pilosidades faciais, a não ser uma barba de três dias sexy como a do Mike Delfino no Donas de Casa Desesperadas, tenho de lhes louvar a determinação). Os homens cresciam. Escreviam cartas de amor. Eram pais de família. Agora não. Chamem-me antiquada, mas se puder escolher entre alguém que não tenha soldados os dedos ao comando da playstation e um que tenha escolherei sempre o primeiro. Não quero saber se para eles é melhor, se os mantém jovens de espírito e previne o Alzheimer. Ser adulto é sempre mais apelativo.
Se a geração dos nossos pais não tivesse inventado a noção de adolescência nós não estávamos nesta embrulhada. Nos anos 40 ser-se adolescente era uma coisa esquisita. Mal deixavam de ser crianças os meninos queriam passar logo a ser adultos, mal podiam esperar. Queriam usar chapéus e levar as meninas a passear nas tardes de domingo. Queriam sair de casa dos pais logo que possível. Agora não. Agora ser adolescente é o melhor do mundo. É confortável. Deixam-se arrastar pela cultura da adolescência como quem usa uns chinelos confortáveis e vão estando e estando e estando. O trintão médio tem a mentalidade e o comportamento de um puto de doze anos. Gosta de mulheres como as que vê nas revistas pornográficas, mas não dispensa a bola com os amigos, as cartas Magic, a playstation e os miminhos da mamã. Mesmo que faça um esforço para namorar "à séria" há coisas que nunca lhes passaria pela cabeça abdicar, a sua colecção de carros de brincar, por exemplo.
Para agravar a situação, estes Peter Pan são financeiramente solventes. Antigamente gastavam o seu dinheiro sabiamente a constituir família, comprar uma casa e ter filhos como dita a ordem natural das coisas. Agora não. Como saem cada vez mais tarde da casa dos pais e trabalham só para eles, podem alimentar os seus vícios à vontade. Têm dinheiro para enterrar nos seus brinquedos, desde os romances gráficos hentai importados do Japão a jantes de liga leve com não sei quantas polegadas. Aliás, se tivermos azar, parte desse orçamento vai para cosméticos e Spas, se forem metrossexuais.
Gostaria de terminar o texto com um manual de sobrevivência e uma mensagem animadora. Minhas amigas, lamento, mas não a tenho. Até ver, não há solução conhecida. Nem tentá-los com favores sexuais imaginativos resulta, lol. Ou se resulta, é temporário. A playstation será sempre a outra, ou então o futebol com os amigos, ou a net. Por isso, é sofrer estoicamente e sonhar com encontrar um que, milagrosamente, não seja tão puto (por mais vã esperança que seja, sempre nos consola). Pode ser que a geração seguinte seja melhor, mas eu não contaria com isso. Apesar de ser ligeiramente reconfortante saber que o nosso namorado se porta como um adolescente é porque ainda o é não recomendo. Legalmente pode ser complicado.

3 comentários:

elisa disse...

Não haverá esperança alguma de encontrar um que não sofra deste síntoma??Um que se pareça com o eye candy de baixo?
Por favor, diz-me que sim...
Diverti-me a ler o teu blog!Posso voltar:)?

Passionária disse...

Claro, sempre. Quanto ao homem que não sofra de peter pan eu continuo à procura, se encontrar a reserva natural deles eu aviso, ok?
Caligrafista

JMTeles da Silva disse...

Vim aqui parar através de outro blog que a referiu. Vejo com satisfação que deve andar, etariamente, pela minha postura. E também por uma mesma maneira de estar. Lamento informá-la que, presentemente, tenho uma barba já mais que grisalha, à la Hemingway.
Se me quiser visitar, esteja à vontade.
www.sbrdvnt.blogspot.com