segunda-feira, agosto 21, 2006

A Última Fronteira


Se as mulheres forem razoavelmente tolerantes e de espírito aberto, praticamente todos os tipos de homem têm o seu encanto. O charme sacana dos filhos da mãe, as piadinhas forçadas dos engraçadinhos, o ar tímido dos intelectuais, todos os géneros têm o seu encanto. Fica, no entanto, uma àrea por explorar e apreciar: os foleiros.
Os foleiros, minhas amigas, são a última fronteira, o Evereste no horizonte feminino. Quer dizer, nós sabemos que eles existem e que gente há que anda por esses lados e os aprecia pelo seu valor (e só assim se explica a existência de Mickael Carreira, o filho de Tony Carreira). Ás vezes até vemos na televisão quem sabe o que isso é, mas nem nós nem ninguém que conheçamos já experimentou pessoalmente. Os foleiros são o último tabu.
Ser foleiro é a pior coisa que pode acontecer a um homem. É pior que um virus mutante que faz a pele ficar roxa e fétida. Transcende raças, cores e confissões religiosas, capacidade económica, meio social. É inescapável. Pode-se ser rico, bonito e de sucesso e mesmo assim ser foleiro (um Cristiano Ronaldo e su brinquito, um Simão sabrosa com o seu corte de cabelo à ovelha). É uma sentença perpétua a cumprir para o resto da vida que torna muito foleiro infeliz e frustrado, tentando deixar para trás a sua verdadeira natureza e abraçar um ar mais cool, resultando isso quase sempre em mais desilusões (uma Ana Malhoa, por exemplo). Alguns nunca se chegam a aperceber da sua triste sina e se se apercebem não demonstram e fico feliz por isso mesmo. Cada um é como é.
Não se pense que os foleiros são apenas um género tipo grande saco onde todos cabem, não. Seria até injusto. Um motorista de taxi não tem nada a ver com um maluco do tunning (apesar de poder tê-lo gerado) ou um dançarino de kizomba. Há que diferênciar. Temos assim quatro grandes grupos dentro do género foleiro, todos com o seu habitat, ritos de passagem e técnicas de acasalamento totalmente diferentes: os clássicos, os modernos, os musicais e os tecnológicos.
Os clássicos são facilmente reconheciveis, e porque não, celebrados, por entre a população portuguesa. Um foleiro clássico anda agora entre os 40 e os 60 anos. Baixo, barrigudito, casado com Lurdes ou Salettes, bigode, ouvidores de quim barreiro e vestidores de fatos de treino ao domingo e meia branca, adeptos do Benfica. São inofensivos a não ser de língua, não se coibindo de mandar a sua boquita, normalmente na linha do ó boa, ou ó brasa, era a noite toda. No fundo, são o bastião último da portugalidade, os que poem as bandeiras nas janelas e sacam o carro para festejar a vitória de Portugal e que, juntamente com as Celestes, as Lurdes, as São e as Marias com quem são casados geraram, muitas vezes filhos perfeitamente aceitáveis que nós tanto apreciamos. Nada mais tenho que apreço por um foleiro clássico, a não ser que o apanhe ao volante de um taxi, e mesmo assim, como é durante pouco tempo, posso resistir à vontade de lhe dar com a cabeça no volante até ficar roxa de cada vez que ele diz que no tempo do Salazar é que se vivia bem.
Os modernos são muitas vezes filhos dos foleiros clássicos, mas também pode acontecer que não. Os foleiros modernos são o público-alvo dos comerciais do AXE. Já foram à escola, Já acabaram o nomo ano, ou plo menos andaram na escola até aos quinze anos , já têm noções mais sofisticadas de limpeza pessoal que limpar a cera dos ouvidos com a unha grande do mindinho. Muitos deles foram até agraciados com um certo bom ar que insistem em enterrar debaixo de bonés ou bandanas e calças cinco números acima, ou então tão justas que cortam a circulação de sangue à parte inferior do torso. Se há alguma moda irritante, eles aderem, desde as pulseiras de borracha da Nike aos toques do Crazy frog nos telemóveis. São eles que nos constroem as casas, que nos servem nos talhos, que nos arranjam os carros, conduzem os nossos camiões. Juntamente com as suas Vanessas, as suas tãnias, as suas Carlas, as suas Soraias têm filhos, casam e separam, têm filhos e estragam-nos e são, no geral, membros produtivos da sociedade.
Agora chegamos aos géneros menos produtivos, os tecnológicos e os musicais. Estes são, se quiserem, irmãos siameses, frutos da mesma árvore foleira de onde brotaram. Os musicais fazem muitas vezes parte de uma tribo. Mas nada daquelas hiper-cool Tribos Urbanas. Não. É a malta do Kizomba, a malta da Dance Music, a malta do Trance. Vestem-se e comportam-se como se a música lhes definisse o estilo. São os gajos mais perigosos, que saem à noite para bever e andam à pancada, farrem corridas de street racing, poem saiotes amaricados e ailerons aos Fiat Punto que guiam, os que sabem onde comprar um telemóvel ripado, vao ao ginásio para ganhar "caparro" e impressionar a garinagem. Os foleiros tecnológicos são os que desbloqueiam os telemóveis aos foleiros musicais, que sacam da net os álbuns que lhe vendem, que ripam o último do Shawzeneger ou a colecção toda do Rambo. Aquelrs que, no fundo, têm os meios e a oportunidade para deixarem de ser foleiros e não só não deixam, como activamente contribuem para a foleirização dos restantes. Uma lástima, portanto.
Os foleiros, nas suas diversas categorias existem na nossa sociedade como o mundo dos mágicos existe nos livros do Harry Potter: só os conhecedores é que dão com eles. Têm os seus restaurantes, os seus bares, as suas lojas (vá, não sejam cínicas que a feira de Carcavelos é, em Latu Sensu uma grande boutique a céu aberto). Claro é que nenhuma mulher que comheço lá vai. Isto porque, na verdade, nós as mulheres somos umas Snob. Preferimos um sacana que saiba o nome de pelo menos um álbum do Nick Cave ou do Morrissey a um foleiro ajeitadinho e boa pessoa (calculo que sejam). Uma mulher não pode sair à noite no carro do namorado que tem chamas pintadas a verde por todo carro e um aileron amarelo canário. Era uma indignidade. Mas mulheres, não será isto preconceito, nao deveriamos, a bem da curiosidade ciêntifica experimentar? Pensem nisto, escrevam se tiverem testemunhos, até garanto a anonimidade se quiserem. Vale a pena explorar os últimos horizontes... ou não?

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