(Não, ainda não me passou...)
quinta-feira, agosto 31, 2006
terça-feira, agosto 29, 2006
A síndrome de Peter Pan
Quando eu tinha oito anos as coisas andavam mais ou menos equitativas entre rapazes e raparigas. Com um canal só de televisão todos víamos mais ou menos a mesma coisa. Eles podiam sonhar que eram o Dartacão, nós sonhávamos que éramos a Julieta e a coisa ficava por ali. O tempo foi passando, nós, as raparigas, fomos crescendo e sonhando que éramos outras coisas e queríamos outras coisas. Já os rapazes não. E se sonhar que se é o Tom Sawyer sempre descalço junto ao rio a passear é normal aos oito anos, o mesmo não se pode dizer aos trinta. Sim, minhas amigas, lamento informá-las que a síndrome de Peter Pan está vivo e de boa saúde.
Uma mulher com o passar do tempo vai criando expectativas. Nos filmes, na música, nos livros, na televisão, há uma data de imagens que nos fazem sonhar com o que queremos num homem. E são homens sérios ou engraçados, misteriosos ou abertos, mas sobretudo, adultos. E o que se passa é que vai-se a ver e não encontramos equivalência no mundo real. Os adultos estão em vias de extinção. Os homens da nossa idade não cresceram, estão a sacar da net o ursinho Mischa ou o Verão azul e a sonhar que são o Tom Sawyer junto ao rio a passear. Ainda. Ora, se os homens fazem isso, se não crescem, quem nos vai trazer flores? Quem nos vai levar a passear ao luar, por mais piroso que pareça, quem vai conversar connosco sobre o sentido da vida? Se não os conseguimos arrancar da frente da playstation ou da net, quem vai partilhar o banho de espuma connosco? É frustrante. Antigamente, na geração das nossas mães, os homens mal podiam esperar para crescer. Numa geração em que os meninos andavam de calções enquanto eram pequenos, os homens mal podiam esperar para crescer e ter calças compridas e deixar crescer o bigode (e por mais que desaprove as pilosidades faciais, a não ser uma barba de três dias sexy como a do Mike Delfino no Donas de Casa Desesperadas, tenho de lhes louvar a determinação). Os homens cresciam. Escreviam cartas de amor. Eram pais de família. Agora não. Chamem-me antiquada, mas se puder escolher entre alguém que não tenha soldados os dedos ao comando da playstation e um que tenha escolherei sempre o primeiro. Não quero saber se para eles é melhor, se os mantém jovens de espírito e previne o Alzheimer. Ser adulto é sempre mais apelativo.
Se a geração dos nossos pais não tivesse inventado a noção de adolescência nós não estávamos nesta embrulhada. Nos anos 40 ser-se adolescente era uma coisa esquisita. Mal deixavam de ser crianças os meninos queriam passar logo a ser adultos, mal podiam esperar. Queriam usar chapéus e levar as meninas a passear nas tardes de domingo. Queriam sair de casa dos pais logo que possível. Agora não. Agora ser adolescente é o melhor do mundo. É confortável. Deixam-se arrastar pela cultura da adolescência como quem usa uns chinelos confortáveis e vão estando e estando e estando. O trintão médio tem a mentalidade e o comportamento de um puto de doze anos. Gosta de mulheres como as que vê nas revistas pornográficas, mas não dispensa a bola com os amigos, as cartas Magic, a playstation e os miminhos da mamã. Mesmo que faça um esforço para namorar "à séria" há coisas que nunca lhes passaria pela cabeça abdicar, a sua colecção de carros de brincar, por exemplo.
Para agravar a situação, estes Peter Pan são financeiramente solventes. Antigamente gastavam o seu dinheiro sabiamente a constituir família, comprar uma casa e ter filhos como dita a ordem natural das coisas. Agora não. Como saem cada vez mais tarde da casa dos pais e trabalham só para eles, podem alimentar os seus vícios à vontade. Têm dinheiro para enterrar nos seus brinquedos, desde os romances gráficos hentai importados do Japão a jantes de liga leve com não sei quantas polegadas. Aliás, se tivermos azar, parte desse orçamento vai para cosméticos e Spas, se forem metrossexuais.
Gostaria de terminar o texto com um manual de sobrevivência e uma mensagem animadora. Minhas amigas, lamento, mas não a tenho. Até ver, não há solução conhecida. Nem tentá-los com favores sexuais imaginativos resulta, lol. Ou se resulta, é temporário. A playstation será sempre a outra, ou então o futebol com os amigos, ou a net. Por isso, é sofrer estoicamente e sonhar com encontrar um que, milagrosamente, não seja tão puto (por mais vã esperança que seja, sempre nos consola). Pode ser que a geração seguinte seja melhor, mas eu não contaria com isso. Apesar de ser ligeiramente reconfortante saber que o nosso namorado se porta como um adolescente é porque ainda o é não recomendo. Legalmente pode ser complicado.
quinta-feira, agosto 24, 2006
Histórias de Fadas para Meninas Más
Olha lá, disse a princesa ao Sapo, relembra-me mais uma vez quantas vezes preciso de te beijar até te transformares em príncipe. É que as primeiras 120 parecem não ter resultado...
quarta-feira, agosto 23, 2006
Histórias de Fadas para Meninas Más
Os homens, pensava Rapunzel enquanto o amado trepava pela trança, são uma fonte considerável de dores de cabeça.
segunda-feira, agosto 21, 2006
A Última Fronteira
Se as mulheres forem razoavelmente tolerantes e de espírito aberto, praticamente todos os tipos de homem têm o seu encanto. O charme sacana dos filhos da mãe, as piadinhas forçadas dos engraçadinhos, o ar tímido dos intelectuais, todos os géneros têm o seu encanto. Fica, no entanto, uma àrea por explorar e apreciar: os foleiros.
Os foleiros, minhas amigas, são a última fronteira, o Evereste no horizonte feminino. Quer dizer, nós sabemos que eles existem e que gente há que anda por esses lados e os aprecia pelo seu valor (e só assim se explica a existência de Mickael Carreira, o filho de Tony Carreira). Ás vezes até vemos na televisão quem sabe o que isso é, mas nem nós nem ninguém que conheçamos já experimentou pessoalmente. Os foleiros são o último tabu.
Ser foleiro é a pior coisa que pode acontecer a um homem. É pior que um virus mutante que faz a pele ficar roxa e fétida. Transcende raças, cores e confissões religiosas, capacidade económica, meio social. É inescapável. Pode-se ser rico, bonito e de sucesso e mesmo assim ser foleiro (um Cristiano Ronaldo e su brinquito, um Simão sabrosa com o seu corte de cabelo à ovelha). É uma sentença perpétua a cumprir para o resto da vida que torna muito foleiro infeliz e frustrado, tentando deixar para trás a sua verdadeira natureza e abraçar um ar mais cool, resultando isso quase sempre em mais desilusões (uma Ana Malhoa, por exemplo). Alguns nunca se chegam a aperceber da sua triste sina e se se apercebem não demonstram e fico feliz por isso mesmo. Cada um é como é.
Não se pense que os foleiros são apenas um género tipo grande saco onde todos cabem, não. Seria até injusto. Um motorista de taxi não tem nada a ver com um maluco do tunning (apesar de poder tê-lo gerado) ou um dançarino de kizomba. Há que diferênciar. Temos assim quatro grandes grupos dentro do género foleiro, todos com o seu habitat, ritos de passagem e técnicas de acasalamento totalmente diferentes: os clássicos, os modernos, os musicais e os tecnológicos.
Os clássicos são facilmente reconheciveis, e porque não, celebrados, por entre a população portuguesa. Um foleiro clássico anda agora entre os 40 e os 60 anos. Baixo, barrigudito, casado com Lurdes ou Salettes, bigode, ouvidores de quim barreiro e vestidores de fatos de treino ao domingo e meia branca, adeptos do Benfica. São inofensivos a não ser de língua, não se coibindo de mandar a sua boquita, normalmente na linha do ó boa, ou ó brasa, era a noite toda. No fundo, são o bastião último da portugalidade, os que poem as bandeiras nas janelas e sacam o carro para festejar a vitória de Portugal e que, juntamente com as Celestes, as Lurdes, as São e as Marias com quem são casados geraram, muitas vezes filhos perfeitamente aceitáveis que nós tanto apreciamos. Nada mais tenho que apreço por um foleiro clássico, a não ser que o apanhe ao volante de um taxi, e mesmo assim, como é durante pouco tempo, posso resistir à vontade de lhe dar com a cabeça no volante até ficar roxa de cada vez que ele diz que no tempo do Salazar é que se vivia bem.
Os modernos são muitas vezes filhos dos foleiros clássicos, mas também pode acontecer que não. Os foleiros modernos são o público-alvo dos comerciais do AXE. Já foram à escola, Já acabaram o nomo ano, ou plo menos andaram na escola até aos quinze anos , já têm noções mais sofisticadas de limpeza pessoal que limpar a cera dos ouvidos com a unha grande do mindinho. Muitos deles foram até agraciados com um certo bom ar que insistem em enterrar debaixo de bonés ou bandanas e calças cinco números acima, ou então tão justas que cortam a circulação de sangue à parte inferior do torso. Se há alguma moda irritante, eles aderem, desde as pulseiras de borracha da Nike aos toques do Crazy frog nos telemóveis. São eles que nos constroem as casas, que nos servem nos talhos, que nos arranjam os carros, conduzem os nossos camiões. Juntamente com as suas Vanessas, as suas tãnias, as suas Carlas, as suas Soraias têm filhos, casam e separam, têm filhos e estragam-nos e são, no geral, membros produtivos da sociedade.
Agora chegamos aos géneros menos produtivos, os tecnológicos e os musicais. Estes são, se quiserem, irmãos siameses, frutos da mesma árvore foleira de onde brotaram. Os musicais fazem muitas vezes parte de uma tribo. Mas nada daquelas hiper-cool Tribos Urbanas. Não. É a malta do Kizomba, a malta da Dance Music, a malta do Trance. Vestem-se e comportam-se como se a música lhes definisse o estilo. São os gajos mais perigosos, que saem à noite para bever e andam à pancada, farrem corridas de street racing, poem saiotes amaricados e ailerons aos Fiat Punto que guiam, os que sabem onde comprar um telemóvel ripado, vao ao ginásio para ganhar "caparro" e impressionar a garinagem. Os foleiros tecnológicos são os que desbloqueiam os telemóveis aos foleiros musicais, que sacam da net os álbuns que lhe vendem, que ripam o último do Shawzeneger ou a colecção toda do Rambo. Aquelrs que, no fundo, têm os meios e a oportunidade para deixarem de ser foleiros e não só não deixam, como activamente contribuem para a foleirização dos restantes. Uma lástima, portanto.
Os foleiros, nas suas diversas categorias existem na nossa sociedade como o mundo dos mágicos existe nos livros do Harry Potter: só os conhecedores é que dão com eles. Têm os seus restaurantes, os seus bares, as suas lojas (vá, não sejam cínicas que a feira de Carcavelos é, em Latu Sensu uma grande boutique a céu aberto). Claro é que nenhuma mulher que comheço lá vai. Isto porque, na verdade, nós as mulheres somos umas Snob. Preferimos um sacana que saiba o nome de pelo menos um álbum do Nick Cave ou do Morrissey a um foleiro ajeitadinho e boa pessoa (calculo que sejam). Uma mulher não pode sair à noite no carro do namorado que tem chamas pintadas a verde por todo carro e um aileron amarelo canário. Era uma indignidade. Mas mulheres, não será isto preconceito, nao deveriamos, a bem da curiosidade ciêntifica experimentar? Pensem nisto, escrevam se tiverem testemunhos, até garanto a anonimidade se quiserem. Vale a pena explorar os últimos horizontes... ou não?
terça-feira, agosto 15, 2006
segunda-feira, agosto 14, 2006
Melhor que Valium
Há poucas coisas melhores que o prazer de comprar uns sapatos novos, pouca coisa supera a expectativa, a antecipação de usar os sapatos, combiná-los com a roupa e pô-los a uso. É verdade que parece futilidade, sobretudo se se coleccionarem em grande número como muitas de nós fazem, mas o que tem de ser tem muita força. Uns sapatos nunca nos desapontam.
Ir às compras pode ser frustrante, numero errado, cor errada, não assenta bem... Os sapatos não, os sapatos servem sempre, contra ventos e marés o nosso número é sempre o mesmo, e tenhamos a idade que tivermos ou o dinheiro que tivermos, é facil encontrar os sapatos que são o último grito da moda. Pelo menos os nossos pés andam sempre actuais. Como podemos sempre encontrar e possuir os sapatos que quisermos, comprar sapatos é das experiências mais agradáveis. Para já não falar que se nos atender um empregado e não uma empregada temos um homem ajoelhado a nossos pés, e não é todos os dias que podemos dizer isso, não é verdade?
Para além de ser bom para a nossa alma, já que sair para comprar sapatos nos garante de certeza um alivio temporário das nossas penas, isso também é bom para a economia. Se as fábricas de sapatos contassem com as compras de sapatos dos homens estavam bem aviadas. A maioria dos homens não passam dos quatro ou cinco pares e que lhes duram horrores. Ora assim não há retoma nem hoje nem daqui a um século. Já uma mulher não, uma mulher precisa sempre de um novo par de sapatos, e mesmo que não precise compra na mesma para prevenir a altura em que precise. Isso sim, é que é ser patriótico e fazer a sua parte para sairmos da crise.
Uns sapatos, sobretudo se novos e com saltos altos, pode magoar-nos, mas nunca desiludir-nos. Se comprarmos umas armadilhas mortais de dez centímetros de salto sabemos no que nos estamos a meter. Praticamente estamos à espera de dores nas plantas dos pés e nas canelas, de não poder com os pés ao fim do dia. Sabemos com o que contamos. Aliás, como sabemos que vai doer e insistimos na mesma, aumenta a nossa capacidade de resistência à dor (os homens com uma gripe já chamam o padre para a extrema unção) e enrijece a nossa fibra moral. Se um homem parece tão confortável como uns chinelos de quarto e nos sai o salto de agulha apertado vindo do inferno ficamos surpresas, magoadas e furiosas. No mundo dos sapatos chinelos são chinelos, saltos são saltos e uma pessoa sabe logo com o que conta, é outra limpeza.
Os sapatos, por todos estes motivos cumprem um importante papel social. Aliviam mais dores de alma que os padres, curam mais stress que as aulas de yoga, remendam mais corações partidos que qualquer artigo da Cosmopolitan. Minhas amigas, é melhor e mais saudável que valium. E isto, nunca poderia ser fútil.
quarta-feira, agosto 09, 2006
terça-feira, agosto 08, 2006
segunda-feira, agosto 07, 2006
Problemas de Expressão
Desde a proverbial maçã que o facto é sobejamente conhecido: mulheres e homens não comunicam. Se alguém me perguntar o que era o mundo antes de Adão e Eva serem expulsos do paraíso, era um mundo onde estavam todos em consonância de sentimentos e opiniões, sendo, como utopicamente diz a bíblia, carne de uma só carne em corpos diferentes.
O que se passa agora não poderia estar mais longe dessa utopia de carne de carne. Um homem médio e uma mulher média vivem em mundos tão diferentes que quase se pode dizer com acerto que são de planetas diferentes. Consideremos o exemplo de um homem médio, agora nos seus trintas. Este homem foi um homem quase de certeza educado no firme e claro princípio de que os homens não choram. Jogou à bola, coleccionou cromos e os cartões das pastilhas gorila que tinham aviões, cresceu a não mexer uma palha em casa. Quando chegou à altura começou a ler Ginas, gozou com os colegas mais fraquinhos, afastou-se como das sete pragas do Egipto tudo o que pudesse ser vagamente sensível ou feminino, foi ver os filmes do Swazeneger. Agora vejamos as vivências de uma mulher média da mesma geração: brincou sempre com bonecas, viu a Candy Candy, o Norte e Sul e uma boa dúzia de novelas brasileiras. Fez colecção de folhinhas coloridas, ou de chávenas de café ou de lápis giros. Quando chegou a altura começou a ler a Cosmopolitan ou, noutro segmento, a Maria. Foi ver as comédias românticas do Hugh Grant e chorou, lamechas, os êxitos do Bryan Adams (e quem não sabe a letra do Heaven não merece o ar que respira). Se virmos bem, desde a infância que o mundo das mulheres e o dos homens não se cruza. É um milagre que tenham conseguido falar uns com os outros o suficiente para se conhecerem uns aos outros e desenvolverem relacionamentos. Um verdadeiro milagre.
Há um cartoon muito famoso onde está um casal abraçado e a mulher pensa no coração e o homem na forma de coração... mas de um rabo feminino. É como se para além de sexos diferentes fossem de planetas diferentes. A culpa até nem é só dos homens, se pensarmos nisso. A verdade é que os rapazes e os homens são condicionados para agir e pensar de uma determinada forma e que não é muito fácil para eles. Deve ser muito incómodo para um homem médio passar a vida a avaliar os atributos físicos das mulheres, saltaricar em quantas camas o deixarem e depois raspar-se, trair as namoradas com outras só porque estão à mão. É um sacrifício extremo que eles fazem e quase me causa lágrimas, e tudo em nome da masculinidade que a sociedade lhes impõe... Assim como é incómodo para as mulheres terem de arranjar sobrancelhas, depilação a cera quente e dieta durante toda a santa vida para corresponder aos padrões de beleza... Ironias à parte, deve ser tão duro para eles aprender a reprimir os sentimentos como para nós é conformar-nos com o modelo de feminilidade submissa que tradicionalmente nos compete. Porque, da maneira que as coisas estão, as relações são um campo de minas.
As mulheres são educadas desde pequenas para manifestarem sentimentos e terem empatia para com os sentimentos alheios tanto quanto os homens são para serem corajosos e manterem o sangue frio, para serem protectores e fortes. Os quadros mentais serão por isso sempre diferentes num sexo e no outro, o discurso, a milhas de distância.
O que se passa agora não poderia estar mais longe dessa utopia de carne de carne. Um homem médio e uma mulher média vivem em mundos tão diferentes que quase se pode dizer com acerto que são de planetas diferentes. Consideremos o exemplo de um homem médio, agora nos seus trintas. Este homem foi um homem quase de certeza educado no firme e claro princípio de que os homens não choram. Jogou à bola, coleccionou cromos e os cartões das pastilhas gorila que tinham aviões, cresceu a não mexer uma palha em casa. Quando chegou à altura começou a ler Ginas, gozou com os colegas mais fraquinhos, afastou-se como das sete pragas do Egipto tudo o que pudesse ser vagamente sensível ou feminino, foi ver os filmes do Swazeneger. Agora vejamos as vivências de uma mulher média da mesma geração: brincou sempre com bonecas, viu a Candy Candy, o Norte e Sul e uma boa dúzia de novelas brasileiras. Fez colecção de folhinhas coloridas, ou de chávenas de café ou de lápis giros. Quando chegou a altura começou a ler a Cosmopolitan ou, noutro segmento, a Maria. Foi ver as comédias românticas do Hugh Grant e chorou, lamechas, os êxitos do Bryan Adams (e quem não sabe a letra do Heaven não merece o ar que respira). Se virmos bem, desde a infância que o mundo das mulheres e o dos homens não se cruza. É um milagre que tenham conseguido falar uns com os outros o suficiente para se conhecerem uns aos outros e desenvolverem relacionamentos. Um verdadeiro milagre.
Há um cartoon muito famoso onde está um casal abraçado e a mulher pensa no coração e o homem na forma de coração... mas de um rabo feminino. É como se para além de sexos diferentes fossem de planetas diferentes. A culpa até nem é só dos homens, se pensarmos nisso. A verdade é que os rapazes e os homens são condicionados para agir e pensar de uma determinada forma e que não é muito fácil para eles. Deve ser muito incómodo para um homem médio passar a vida a avaliar os atributos físicos das mulheres, saltaricar em quantas camas o deixarem e depois raspar-se, trair as namoradas com outras só porque estão à mão. É um sacrifício extremo que eles fazem e quase me causa lágrimas, e tudo em nome da masculinidade que a sociedade lhes impõe... Assim como é incómodo para as mulheres terem de arranjar sobrancelhas, depilação a cera quente e dieta durante toda a santa vida para corresponder aos padrões de beleza... Ironias à parte, deve ser tão duro para eles aprender a reprimir os sentimentos como para nós é conformar-nos com o modelo de feminilidade submissa que tradicionalmente nos compete. Porque, da maneira que as coisas estão, as relações são um campo de minas.
As mulheres são educadas desde pequenas para manifestarem sentimentos e terem empatia para com os sentimentos alheios tanto quanto os homens são para serem corajosos e manterem o sangue frio, para serem protectores e fortes. Os quadros mentais serão por isso sempre diferentes num sexo e no outro, o discurso, a milhas de distância.
Recuso-me a pensar que os homens só pensam em sexo e só agem para conseguir gratificação sexual. Isso seria passar-lhes um atestado de menoridade intelectual, tornando-os uns seres comparativamente menos civilizados que os golfinhos. Alguma coisa sentirão. Como as mulhrese sentem amor, ódio, raiva, ciúme. A chatice é que as mulheres podem falar disso à vontade (e falam, normalmente até à exaustão) e os homens não. Homem que é homem não quer ser jamais apanhado a dizer coisas como: acho que deveriamos repensar o rumo da nossa relação, ou, não gosto quando não falas comigo muito tempo porque me sinto ignorado. Mesmo que o pense. Não lhe fica bem. Por este mesmo motivo têm a relação que têm com os telemóveis. Para eles são objectos práticos e funcionais a ser usados parcimoniosamente. Para as mulheres, extensão da sua pessoa. Ficam perplexos porque a namorada se desfez em lágrimas fungando: "tu despachas-me ao telefone" ou "não te custava nada ligares para dizer que estavas bem". A eles nunca lhes passaria pela cabeça ligar a não ser que tivessem informação específica e vital a transmitir. É uma luta constante.
Assim e neste estado de coisas, ou esperamos que a sociedade mude, tentando, como diz o Leonard Cohen no seu "First We Take Manhattan" mudar o sistema por dentro e morrer de aborrecimento até que dê resultado ou metemos as mãos na massa e tentamos comunicar. Assim, mulheres, não sejam tão tagarelas, homens, por todos os santinhos, falem, liguem, mandem mensagens ou e-mails. Em último caso, como diz o Carlos Tê, usem o inglês. Como diz a música dos Clã? Só pra dizer que te Amo, Nem sempre encontro o melhor termo, Nem sempre escolho o melhor modo. Devia ser como no cinema, A língua inglesa fica sempre bem E nunca atraiçoa ninguém. O teu mundo está tão perto do meu, E o que digo está tão longe, Como o mar está do céu...
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