Apesar do tema eminentemente erudito, a verdade é que a inspiração para este texto emanou direitinha de uma música dos Gogol Bordello. Toda a gente sabe, aliás, que a minha cultura científica é a modos que limitada, se a coisa sair das ciências humanas. De qualquer maneira vamos lá a ver se me consigo explicar sem dizer muitas asneiras. Falava de uma super teoria, por isso vamos lá.
A tendência científica durante muito tempo foi para a especialização, saindo de uma ciência tipo sopa da pedra com um bocado de tudo, como a alquimia, e arrumando tudo direitinho em disciplinas cientificas e sub-secções específicas de estudo. Claro que depois perceberam que não era bem assim, por exemplo que a origem da vida na terra e o desenvolvimento das espécies não era estanque nem explicável apenas por coisas como a antropologia, também coisas como a geologia tiveram um papel fulcral neste processo. Daí a chegar à ideia de uma super teoria que explicasse basicamente tudo foi um passinho. Ainda não se encontrou, mas procura-se com afinco. E ouvi aqui há uns tempos um físico dizer que será, provavelmente, linda na sua simplicidade, como a teoria da relatividade, uma catedral no seu e= mc2.
Se os cientistas andam a procurar uma resposta apenas para todas as questões do universo, dei por mim a pensar se não haveria também uma super teoria para estas coisas da vida e do coração que aqui trato, não do sentido da vida, que toda a gente sabe que é o chocolate preto com uns travozinhos de menta, mas das emoções.
Sou, como vocês sabem, uma observadora da natureza humana. Como os narradores do E.M.Forster passo a vida a observar toda a gente a apaixonar-se e a desapaixonar-se, a amarfanhar-se e esgadanhar-se sem participar directamente. Isto dá-me, este distanciamento, uma espécie de abordagem científica à coisa. Por isso dei por mim em busca desta super teoria que explicasse estas coisas, todo este amor e corações partidos, todas estas batalhas em que se sai mais amachucado que outra coisa.
Como diz o Alain de Boton no seu Status Anxiety, todos procuramos a validação, a atenção e o reconhecimento incondicional dos nossos feitos como tínhamos quando éramos pequeninos. Ele aplica a ansiedade ao status e á forma como somos percebidos social e profissionalmente. Eu pensei (não muito originalmente, confesso) em aplicar isto ás relações homem-mulher, pois disso falo há três aninhos aqui no blog. Será verdade que a super teoria de quase tudo é que todos queremos atenção? É capaz.
Se problematizarmos, no entanto, esta teoria, ou melhor, deixem-me ser cientificamente correcta e chamar-lhe modelo científico, vemos que explica muita coisa, mas que é uma coisa simplista. Explica, por exemplo, a nossa monogamia em série, de um amor para outro e depois para outro, mas não tem em linha de conta, por exemplo, o equilíbrio precário de poder entre os dois sexos, ou uma série de constrangimentos culturais e morais. Quem acha que o amor é entre duas pessoas e não elas, eles e a soma das circunstâncias de ambos está muitíssimo enganado. Não há, a não ser nos romances do Saramago, e benza-o deus por isso, amantes perfeitos sem ansiedades nem fios nem complicações. Haverá sempre ânsias e desejos inconfessáveis e sentimentos de posse, porque somos imperfeitos. Haverá, sempre, entre homens e mulheres aquilo que fica por dizer e por perceber, que não se lê e não se diz , como se fossem didascálias. Mas sim, se quisermos ser simplistas pensaremos que a super teoria de quase tudo é a necessidade de validação, ou aceitação de quem somos e do que fazemos. E nisto os Beatles estavam, não errados, mas incompletos: não precisamos só de amor mas sim de nos sentirmos válidos, valorizados E esta é a verdadeira super teoria de praticamente tudo. Pelo menos segundo aquilo que conheço do mundo.
2 comentários:
Muito bem: aceitar quem somos e o que fazemos, não só relativamente a nós mas ao outro também; sermos valorizados.
Para tal devemos conhecer-nos a nós próprios muito bem, devemos ter consciência do que somos e do que realmente valemos, devemos, primeiro, gostar muito de nós, e só depois permitir que gostem de nós.Se nós não gostarmos jamais compreenderemos porque gostam. Se gostam é porque têm algo em comum, caso contrário não gostariam. Se nós gostamos então também teremos necessariamente de gostar.
Depois vem a atenção, a capacidade de entreter, de fazer sentir e sentir-se bem, de gostar de estar com, um estar pleno e construtivo que torne ambos melhores, que crie uma partilha de sensações, emoções, cumplicidades diversas que se fundem numa única e mesma forma de estar na vida.
Nas relações a dois,
a receita poderia ser : admiração; respeito; veneração;cumplicidade; atenção; tempo.
Vicente da Rosa
Ah, Vicente, mas as receitas podiam ser muitas outras. Vou escrever sobre isso.
Como sempre,
i.
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