segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Neandertal, S.F.F.



Eu sei que é estranho e custa-me admitir, é uma daquelas coisas que vai contra a própria natureza, mas o facto não pode ser escamoteado: às vezes os homens têm razão: nós não sabemos o que queremos.
Pronto, passámos milénios a civilizar os homens e a lutar pelo nosso lugar, a torná-los mais sensíveis que os brutamontes que nos arrastavam pelos cabelos para a sua caverna. O pior é que depois isso não nos satisfaz e enche-nos dos nossos piores instintos: os homens estão a ficar sensíveis demais. Pelo menos eu acho.
O meu problema com os homens muito sensíveis é simples: com o meu feitio, passo-lhes por cima como um rolo compressor. O que é chato. É que reparem, não gosto de ser cruel com as pessoas, mas não tenho em mim o tacto de refrear o sarcasmo e quando dou por mim já estou a ser má e arrastei os desgraçados para a beira das lágrimas. Se eu acho bom e saudável que os homens dêem vazão às suas emoções, não gosto de saber que fui eu que provoquei a torneirinha. Mas que querem, não tenho pachorra para cenas emocionais. E quando tenho, desviem-se porque realmente não estou em posse das minhas faculdades mentais como deve ser e vai sair bomba. Mas não tornemos o texto sobre mim, será que as mulheres, no geral acham que os homens estão demasiado sensíveis? Ah pois claro.
Esta opinião é mais instintiva e subliminar que consciente: acreditamos que gostamos de homens sensíveis e conversas longas sobre o que cada um sente, mas na prática isso não é bem assim. Se repararem, os protagonistas da chick lit, aquela que toca na psique feminina colectiva ( ou não venderia tão bem) são homens decididos e pouco dados a discussõezinhas do género " acho que devíamos discutir o rumo da nossa relação e a profundidade de sentimentos". São machos Alfa, que tomam decisões e assumem o controlo, arrastando-nos, literal ou figurativamente, para a caverna de onde saíram. São os antípodas dos homens sensíveis. Estou convencida que isto de ser emancipada e liberada acaba por não neutralizar os nossos instintos primitivos de, basicamente, nos rendermos a alguém que tome conta de nós. Instintos esses com que algumas de nós se sentem mais confortáveis que outras. E depois, estes instintos, (mesmo que não de nos deixarmos subjugar) vão de encontro á nossa própria autoestima: consciente e inconscientemente gostamos de ser valorizadas, de saber que valemos o suficiente para sermos disputadas, que somos desejadas (e amadas) o suficiente para nos levarem para a sua vida por todos os meios necessários, incluindo um pouco de força (agora não interpretem isto como desculpa para violência doméstica, porque não é).
Um homem sensível está demasiado centrado no que ele próprio sente para nos mostrar claramente esse desejo e essa vontade. Um homem sensível não percebe que há qualquer coisa como o ser possível ser sensível demais. Conversam connosco até à morte, jogam jogos emocionais connosco até nos darem cabo da nossa paciência e do coração, sem perceberem aquilo que é uma verdade transcendente a séculos e civilizações: às vezes aquilo que queremos, mais, que precisamos, é ser arrastadas até à caverna sem nos deixar lugar a dúvidas, de ser, como a Scarlett, levadas escadas acima e ponto final. Ser neandertal nem sempre é uma coisa má, acreditem.

5 comentários:

JKL disse...

Ou seja... O ideal seria um Neanderthal com o cabelo aparado, face devidamente escanhoada, lavadinho, cheiroso e bom conversador. De preferência bipolar, ou seja, Neanderthal às segundas, quartas e sextas, civilizado às terças, sensível às quintas e sábados e alforreca ao domingo - horário a alterar de acordo com a conveniência do cromossoma Y lá de casa.
Eu continuo a crer na seguinte máxima: "um homem casa com uma mulher e espera que ela nunca mude, mas ela muda; uma mulher casa com um homem e acredita que ele vai mudar, mas ele não muda".

Até ver...
:)

Passionária disse...

Sabe Niagara, é EXACTAMENTE isso que queremos, lol, sem tirar nem pôr.

obrigada pela visita
:)
i.

Anónimo disse...

O problema com os sensiveis (os homens) reside no facto de que sao apenas mulheres com uma pendencia a mais. E a gente sabe que mulheres raramente se dao bem com mulheres, que a competicao e feros e nao, pelo menos a mim, me apetece estar a li a discutir quem sente mais que quem. Homem que e homem, como diz o meu pai, sabe o que quer. (nao era bom quando tudo era a preto e branco?) E vai atras e briga por isso, nao fica no chove mas nao molha. O mulherio gosta disso. Eu fui criada a esse tom. Muita novela feminina, muito arlequim e sabrina. O que nao me impede de espernear e gritar e partir a louca quando o meu macho se lembra do seu gene caverna. O tambem esta de acordo com o canone, nao (se bem me lembro dessa literatura, as mulheres sempre reclamavam pelo menos um pouco senao a historia nem acontecia. O fogo de artificio que se segue e sempre dos mais interessantes.
O que quer dizer que a vida imita a arte...

Jinhos

Su

angela maria disse...

Sal é sal e açúcar é açúcar,tudo na medida certa, eu diria...
Ângela

Passionária disse...

Querida Su, mais uma vez, e já para não estranhar, completaste o meu pensamento... Luv ya sis

Pois, Ângela, mas o equilíbrio é como a linha do horizonte, ver, a gente vê, chegar láé que já nem por isso.