terça-feira, dezembro 23, 2008
sexta-feira, dezembro 19, 2008
Hermenêutica e semiótica
Não há ninguém melhor em interpretação, ninguém mais versado em hermenêutica e semiótica que as mulheres, apaixonadas ou não. Estou, aliás convencida que o famoso sexto sentido feminino nada mais é que o famoso sexto sentido feminino nada mais é que uma refinada capacidade de interpretação de subtis sentidos nas acções e nos sinais do mundo que nos rodeia. Somos, diga-se de passagem, treinadas para isso desde pequenas, para vermos o padrão nas coisas e nas palavras, o significado de expressões faciais, de gestos, de acções. É suposto sermos empáticas, atentas aquilo que nos rodeia. E se não o somos de pequenas, somos de grandes, no amor, somos enquanto mães a interpretar gestos e necessidades dos nossos bebés, pequenos demais para se exprimir verbalmente.
A nossa capacidade hermenêutica é um imperativo biológico, essencial à continuidade da espécie. Sendo os homens aquilo que são, uns grunhos, se não fosse a nossa capacidade hermenêutica as relações nunca começariam, ou se começassem nunca se desenvolveriam ou perdurariam para além da primitiva forma de comunicação que é o sexo. É a hermenêutica, ou como diz o Carlos Tê na voz dos Clã, a nossa competência para amar, que mantêm a nossa civilização coesa e funcional.
Como nenhum instrumento humano é perfeito, também a hermenêutica está cheia de falhas e armadilhas. É aqui que entram as palavras do Humberto Eco: se o texto (ou enunciado verbal) é um piquenique para onde nós levamos o sentido, então todas as interpretações estarão correctas, certo? Pois não, minhas amigas, e não sabem o prazer que me dá poder usar a natureza masculina para refutar uma teoria de interpretação literária que sempre achei uma treta, nem todas as interpretações estão certas.
As mulheres, sobretudo as apaixonadas, vêm com toda a atenção todos os enunciados orais (conversas de treta), todos os textos (SMS e afins), todos os gestos, pausas e hesitações, para, a partir destes aferir o estado da relação. Constroem, a partir desta interpretação uma teoria do estado das coisas, modificando o seu comportamento para responder às necessidades deste modelo teórico. Infelizmente para elas, nem sempre estão correctas, espalhando-se ao comprido. Lá porque uma coisa é verosímil não significa que seja verdadeira (ora toma, Humberto!).
É, aliás, muito fácil de ver que os próprios homens conhecem esta nossa fraqueza hermenêutica e a exploram, dizendo e fazendo aquilo que os vai conduzir ao efeito desejado, nomeadamente a reboladela no feno, de preferência sem mais complicações. Não se esqueçam que as canções do bandido, se são eficazes, por alguma coisa é.
De qualquer forma, os nossos erros interpretativos nem sempre se devem a sermos manipuladas pelos homens. Muitas vezes é apenas wishful thinking da nossa parte e pura determinação em fazer a realidade caber nos nossos desejos. Se assim não fosse, se fossemos sempre eficazes e correctas não haveria amores não correspondidos nem mal-entendidos trágicos nenhuns. Como já explanei num texto anterior (a teoria KISS), nós temos a mania de complicar e encontrar sentidos e explicações ocultas na realidade. Mas estes delírios interpretativos raramente, senão nunca, dão grande resultado. Ficamos, diga-se de passagem, é com grandes caras de tacho quando percebemos como a nossa liberdade interpretativa nos levou a becos sem saída dos quais só nos livramos recuando sem grande dignidade. Os homens são lamentavelmente literais, sobretudo quando estão muito interessados ou quando não estão interessados de todo.
A solução para o pântano da hermenêutica passa, em conclusão, por controlarmos criteriosamente o grau de interpretação que aplicamos à vida e às relações. Passa por nos lembrarmos que eles aplicam à vida, sempre que possível, a regra do simplex, nem sequer estão emocionalmente equipados para grandes subtilezas hermenêuticas. E passa, sobretudo, por, sempre que possível, ir directamente à fonte. Se parecer bom demais para ser verdade é porque é, e a explicação mais simples costuma ser a verdadeira. E se ainda tiverem dúvidas recusem interpretações, não aceitem mais que tudo devidamente explicado e clarinho da boca deles. Treinem comigo a pergunta: ouve lá, que raios queres dizer com isso?
quinta-feira, dezembro 11, 2008
Guilty pleasures
ah, e a propósito...
também não sou moralmente superior a vibrar com Bryan Adams .