quarta-feira, fevereiro 06, 2008

As mulheres admiráveis

Sendo que os homens costumam ter processos mentais mais simples que nós, a sua visão das coisas tende a ser mais directa e compartimentada que nós. Nós somos as rainhas do multitasking, e todas as coisas são parte de todas as outras. Como seres inteligentes e analíticos passaram milénios a pensar que éramos simplórias domésticas com a capacidade intelectual de um arranjo de flores juro que não percebo. Talvez por dois factores que ainda hoje se verificam: a sua incapacidade de ver as coisas para lá da aparência, sobretudo se esteticamente interessante, e a sua tendência para compartimentar tudo nos seus devidos lugares.
No universo masculino, as mulheres estão divididas em diferentes categorias arrumadinhas e impermeáveis. Criaturas menos caóticas que nós (no geral) encaram as mulheres nas suas diversas facetas e rotulam-nas de acordo com os seus sinais exteriores. As mães, as cortesãs e as santas. Nós sabemos que somos todas um bocado destas coisas todas, mas eles não o sabem. Mas pronto, as coisas são como são. E ser mãe ou ser cortesã tem as suas compensações. Ser santa é que não. Não há nada pior no mundo que sermos santas, que sermos admiradas. É um destino horrível.
Quando uma mulher entra na categoria das admiráveis santas, das duas, uma: ou está morta há muito tempo e é inacessível, ou ele a acha feia e não-desejável (apesar de todas as qualidades que a tornam admirável). O clube das mulheres admiráveis é um clube deprimente. Por exemplo, estar no mesmo espaço mental reservado a, digamos, Eleanor Roosevelt, não só morta há umas décadas como nada atraente em vida é desmoralizante de todo. Por melhor que seja ser reconhecida pela sua bondade, ou inteligência, ou talento, nenhuma mulher quer ir para a prateleira das imagens mentais a usar em caso de erecções embaraçosas. É do piorio, e de uma ironia insuportável.
Se uma mulher vale pela sua beleza é mau, porque é futilidade, objectificação e exploração, se vale pelas suas qualidades interiores é igualmente mau porque fica na categoria das intocáveis. Claro que isto traduz o má e superficial que é a sociedade e blá blá blá, mas a verdade é que é chato. É que todas as mulheres querem ser não uma coisa para um homem, mas sim tudo. Por isso é que as mulheres ficam tão zangadas com traições, porque significa que, de certa forma, falharam o seus objectivo: dar resposta a todas as necessidades do ser amado.

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