Olhe-se a coisa da perspectiva que se olhe, os homens ficaram com a parte boa do ponto de vista biológico. Eles, ao contrário de nós, podem ter filhos até que são velhos carecas, desdentados e sem interesse nenhum. Nós não. Nós vimos com prazo de validade, ou assim nos dizem. Somos válidas durante o tempo que podemos ter filhos, que é pouco, o tempo em que somos atraentes e desejáveis. Depois acabou. A partir dessa altura esperam de nós um ar gracioso na retirada, deixarmos o lugar às mais novas, mais frescas, mais férteis.
Ah minhas amigas, é terrível este relógio na nossa cabeça, este tic tac que nos manda ter filhos depressa, que nos impele a sermos mães antes que seja tarde, antes que não os possamos ter mais. Passada aquela idade de casar, ter filhos, submeter-se devidamente ao que esperam de nós,estamos na prateleira, como panelas sem asa, já dizia o Gil Vicente.
É difícil não se deprimir nesta altura, não é? Entre o aniversário e o ano novo tudo me lembra de como a minha infância está mais longe, e eu mais velha.
É preciso pois, minhas caras, neste tempo de relógios, deixar de olhar para eles. Fazer um esforço por não cair na armadilha fácil que nos estendem ao chamar-nos velhas, ao dizer que o prazo está a chegar onde não valemos mais. Há mais maneiras de ser mãe que ter filhos, várias formas de ser mulher sem ter a frescura pré-adolescente que parecem preferir. Não estamos à venda, como as conservas, para passar de prazo, não somos um bife nem uma lata de sardinhas. Temos de parar de ser más para nós próprias, a torturar-nos com o que podemos ou não fazer, com a idade, ou o peso, ou o sexy que somos, com os rótulos que querem que tenhamos. Quando o relógio biológico as chatear muito, desliguem. E vivam, vivam como se fosse o último dia. É que pode ser, sabiam?
Feliz ano novo.