sábado, dezembro 30, 2006

A propósito de relógios

Olhe-se a coisa da perspectiva que se olhe, os homens ficaram com a parte boa do ponto de vista biológico. Eles, ao contrário de nós, podem ter filhos até que são velhos carecas, desdentados e sem interesse nenhum. Nós não. Nós vimos com prazo de validade, ou assim nos dizem. Somos válidas durante o tempo que podemos ter filhos, que é pouco, o tempo em que somos atraentes e desejáveis. Depois acabou. A partir dessa altura esperam de nós um ar gracioso na retirada, deixarmos o lugar às mais novas, mais frescas, mais férteis.
Ah minhas amigas, é terrível este relógio na nossa cabeça, este tic tac que nos manda ter filhos depressa, que nos impele a sermos mães antes que seja tarde, antes que não os possamos ter mais. Passada aquela idade de casar, ter filhos, submeter-se devidamente ao que esperam de nós,estamos na prateleira, como panelas sem asa, já dizia o Gil Vicente.
É difícil não se deprimir nesta altura, não é? Entre o aniversário e o ano novo tudo me lembra de como a minha infância está mais longe, e eu mais velha.
É preciso pois, minhas caras, neste tempo de relógios, deixar de olhar para eles. Fazer um esforço por não cair na armadilha fácil que nos estendem ao chamar-nos velhas, ao dizer que o prazo está a chegar onde não valemos mais. Há mais maneiras de ser mãe que ter filhos, várias formas de ser mulher sem ter a frescura pré-adolescente que parecem preferir. Não estamos à venda, como as conservas, para passar de prazo, não somos um bife nem uma lata de sardinhas. Temos de parar de ser más para nós próprias, a torturar-nos com o que podemos ou não fazer, com a idade, ou o peso, ou o sexy que somos, com os rótulos que querem que tenhamos. Quando o relógio biológico as chatear muito, desliguem. E vivam, vivam como se fosse o último dia. É que pode ser, sabiam?
Feliz ano novo.

sábado, dezembro 23, 2006

terça-feira, dezembro 12, 2006

Os indisponíveis

Desde o Modelo e Detective que a frustração é sempre a mesma. O casalinho que é perfeito um para o outro e que não se entende. Quer dizer, nós sabemos que eventualmente ficarão juntos mais lá para a frente na série, mas é como a cenoura e o burro, andamos, andamos e nunca lá chegamos. E quem diz Modelo e detective diz Ficheiros Secretos, Pretender, ou mais recentemente House ou CSI.Só um cego é que não percebe que o Grissom e a Sarah são perfeitos um para o outro, que ela o poderia salvar daquela alienação do mundo real e ele dar-lhe o sentido de permanência que tanta falta lhe faz. Mas isso nunca chega a acontecer. Temos de nos contentar com uma palavra mais terna, um olhar, um gesto, e construir a partir daí o romance todo na nossa cabeça.Em termos de estratégia televisiva nós até percebemos: a expectativa faz-nos ver episódio atrás de episódio, época atrás de época. Como é visto por homens e por mulheres contentam as mulheres com migalhas de romance e os homens com a disponibilidade, no sentido de um gajo esperto que não se deixa apanhar por mulheres, mais o bónus da personalidade nobre e heróica, que os homens nunca se curaram do papel de cavaleiro de armadura e tudo, são uns modelos da virilidade óptima, em todo o seu esplendor. O motivo porque nós, mulheres, nos sentimos atraídas por eles é que já é mais difícil de perceber. A não ser que o vejamos à luz da teoria da indisponibilidade.Ora, segundo a minha teoria, quanto mais indisponível um homem for, mais seduzirá uma mulher. O grau de interesse delas e de desinteresse deles é inversamente proporcional. Segundo o ideal romântico que nos dão a beber no biberão, os homens são criaturas nobres que, a seu bom tempo, nos encontrarão. Tal como a bela adormecida é suposto esperarmos, sem nos questionar porque raios, como na história, ele demorou cem anos para dar connosco. Por mais modernas que sejamos, por mais que tomemos a iniciativa, um homem que esteja aberta, clara e activamente interessado em nós não tem, de longe nem de perto, o mesmo interesse que um distante e inacessível. Um homem que não se faz de caro não dá luta, enche-nos de tédio num instante.A lógica retorcida por detrás disto reside muito na nossa crónica falta de auto - estima. Um homem que goste de nós assim, à primeira, tem, no mínimo dos mínimos, o defeito de não se fazer rogar, deve ser falta de vista e provir de uma longa linhagem de gente estúpida para não ver o que nós vemos- que há muitas (se não todas) mulheres melhores e mais interessantes que nós. E gente estúpida nunca é interessante ou desejável. Já um homem destes, um homem inacessível é logo outra qualidade de vida, mete-nos logo no nosso devido lugar. Temos de nos mostrar dignas e, até ao dia que o formos contentamo-nos com as migalhitas de atenção que eles bem entendem.A questão, minhas senhoras, é que devem é TER JUIZINHO. Deixem-se de inacessibilidade, meninas. Os homens inacessíveis continuarão sempre assim, inacessíveis, mesmo que lhes liguem pontualmente. E migalhas de carinho e de atenção estavam muito bem na Inglaterra vitoriana, mas agora deixam-nos o coração raquítico, à mingua. Mil vezes um homem abertamente interessado, sem dúvidas. Por essas e por outras é que comecei a ver a Anatomia de Grey. Ao menos esses sabem o que querem, o que é refrescante. E o Patrick Dempsey é sempre giro de se olhar.

domingo, dezembro 03, 2006

Como os conselhos voltam como boomerangs

Para começo de conversa, as mulheres seguras e sem dúvidas em relação a si próprias são uma vergonha para a espécie feminina, são uma anomalia estatística. Todas as mulheres, ou pelo menos todas as que eu conheço têm qualquer coisa que as aborrece na sua aparência e que é a vergonha da sua existência, qualquer coisa que era perfeitamente escusadinha. E isto quando é só uma coisa, porque a maioria das vezes são muitas coisas. E aquilo que caras-metade pensam é um bocado secundário. Nós não pensamos tanto em função deles como em função umas das outras.O homem médio é cego aos detalhes, Deus o abençoe por isso, e não repara nesses detalhes, ou se repara tem o bom senso de ficar com a boca bem calada (espero eu). Umas com as outras é que já não é bem assim.A boa aparência é para benefício dos homens, não estejamos com tretas, porque como diz a canção, beleza é fundamental. Mas só até um certo ponto. Muito do que nós fazemos é para nos justificarmos perante as outras, os faux pas são imperdoáveis porque somos uma espécie de invejosas. E mesmo que sejamos umas líricas zen em que a nossa aparência não interessa, as outras vão certamente reparar. A dura verdade é que uma mulher desarranjada ou desmazelada é um alvo fácil, uma mulher com defeitos está mesmo a pedi-las. Para o resto da espécie feminina, uma mulher que não se arranje está mesmo a pedir que lhe arrebatem o homem, porque é até mal empregue naquela esta ou naquela aquela.Já disse que as mulheres são inseguras? Parece-me que sim. As mulheres sofrem mil mortes a pensar nestas coisas, no que eles podem pensar, no que elas podem pensar, no tudo que pode correr mal sendo nós as criaturas cheias de defeitos que somos.De modos que estava eu numa dessas trips de insegurança quando uma grande amiga minha me lembrou um conselho que eu lhe tinha dado há uns anos atrás: há tanta mulher no mundo, tanta tão mais perfeita e interessante e inteligente que se não arranjamos um homem que lhes resista, não vale a pena. É um bom conselho, não é? Se ao menos me tivesse lembrado dele em causa própria em vez dele voltar a mim como um boomerang e dar-me na cabeça...A verdade é que nós, as mulheres, precisamos de relaxar. Factos como celulite, estrias, rugas, gordurinhas, buços, pernas curtas, ancas largas, etc. , etc. são factos da vida. Nunca irão desaparecer. Podemos lutar com eles até um certo ponto, mas não até ao ponto onde nos dominem a vida e os pensamentos, não aproveitamos nada da vida se assim for. Temos de viver bem com a nossa pele, porque só temos este corpo, foi o que nos saiu na rifa da piscina genética dos nossos pais. E realmente, um homem que não esteja bem na nossa pele, que não seja nossa família no sentido de gostar de nós como somos não vale a pena, é demasiada manutenção. Precisamos de relaxar mais. E quanto às outras mulheres, temos igualmente de deixá-las andar. Sim, é verdade, podemos não ter umas pernas/ancas/caras perfeitas mas somos nós, com as nossas qualidades e os nossos defeitos, as nossas personalidades. Amar alguém perfeito é fácil, alguém imperfeito não. Se alguém tem o bom gosto extremo de gostar de nós mesmo com a legião e defeitos que temos, o melhor é mesmo não sabotar e aproveitar enquanto a cegueira dura...


Feministas Eméritas



Greta Garbo
"I don't want to be a silly temptress. I cannot see any sense in getting dressed up and doing nothing but tempting men in pictures. "