quarta-feira, março 02, 2011

Casa


Somos, no geral, pouco dados a sentimentalismos enquanto família. A nossa relação com fotografias é indiferente quando muito, a nossa ligação a coisas e espaços irrelevante. Não há aquele sítio, aquele espaço que seja casa. Não porque não gostemos uns dos outros enquanto família, mas precisamente porque gostamos. Lembro-me da minha casa de infância, mas curiosamente mais de coisas separadas que de espaços: a toalha de gordas rosas de renda que era da avó Laura, a moldura de fósforos que o meu pai fez com uma fotografia deles dois, impossivelmente jovens no seu sorriso a preto e branco, as taças frágeis de champanhe, limpas com cuidados extremos , com motivos de espigas e pés altos e finos. A casa foi fechada há muitos anos e não posso dizer que sinta especial saudade dela. A família permaneceu junta nessa mudança, nas mudanças subsequentes motivada pelas circunstâncias da vida e acho que é isso que importa.
Perdi a conta às mudanças de casa que, ou por motivos escolares, ou por motivos profissionais , me vi obrigada a fazer. Não que me queixe, acreditem, pois sou uma criatura impaciente, gosto de mudanças, e novos sítios e desafios. Acho que tenho a vida que gosto e que se adequa a mim, e a casa para mim será mais pessoas que lugares ou espaços.
Encaro o meu espaço na blogosfera também como uma casa. Tive várias antes desta, várias a par desta porque, como disse sou impaciente e contraditória e preciso de um outlet para diferentes vozes e perspectivas. Gosto muito desta Sala e Cozinha, deu-me muito prazer habitá-la durante estes anos, mas não sinto a ligação com ela que senti antes. Isto para mim é um sintoma: quando não sinto o desejo de ficar, está na hora de partir. Não quero manter o blog quando esta manutenção não é feita com prazer. Assim sendo, considero ter chegado a altura de mudar de casa. Não abandono a blogosfera, mas alargarei seguramente o âmbito da linha editorial que impus a mim mesma aqui no Sala e Cozinha. Os meus amigos, que aqui vêm e fazem parte da minha casa, aquele espaço imaginário do coração, seguir-me-ão se o quiserem. Estarei aqui.