quinta-feira, outubro 21, 2010

Kiss my big fat ass

A tendência mais recente do mundo da moda é o recurso a modelos plus size, o que no mundo da moda é gente que em vez do proverbial 32 usa o 40. Mas como disse ainda outro dia a uns amigos, esse é o espírito das Olimpíadas Especiais mas em mauzinho, na onda do coitadinho ou do gimmick tão giro, como as modelos negras aqui há uns anos, ou as asiáticas nos anos oitenta e noventa. A verdade é que o mundo da moda, e aqui incluo estilistas, marcas, revistas e blogs da moda têm uma ideia muito uniforme de beleza e de moda.
No admirável mundo novo do photoshop, a imagem que temos é de criaturas longilíneas e pálidas, com o ar andrógino e um pré-adolescente. Beleza real que é bom, viste-a. Mesmo as modelos que fogem um tudo nadinha ao normal, como a Crystal Renn ou a actriz Christina Hendricks são o aceitável, sem protuberâncias em lado nenhum, ou celulite ou outra coisa qualquer. No admirável mundo novo do photoshop todas as mulheres são, obrigatoriamente, estilizadas e passadas a ferro, bidimensionais na sua juventude eterna.
Levei duas décadas da minha vida a recriminar-me por não encaixar nessa imagem brilhante e lustrosa e só uma depressão e uma quantidade considerável de juízo conseguiram fazer com que deixasse de ter pena e gostar do meu corpo. Mais que isso, sou agora como a Beth Ditto, activista.
Admiro especialmente a vocalista dos Gossip, que singrou num meio onde artistas como a Lady Gaga não passam do 32 e olha lá. Nunca pede desculpa, nunca é discreta, nunca se veste de cores neutras e pede desculpa por não estar mais magrinha, nem assegura os jornalistas que vai começar uma dieta, e é já amanhã. Em vez disso, poisa nua em toda a sua glória cheia de regueifas e não depilada. E desculpem que diga, até não está mal.
Para além de gostar de a ver assim, de a sua atitude me inspirar, também me faz pensar. As mulheres são cerca de 51% da população. Se nos deixamos oprimir, a culpa não será também um pouco nossa? Quer dizer, depende do ponto geográfico e da cultura a que pertencemos, prontos, mas na nossa sociedade, em que é suposto sermos iguaizinhas também temos de levantar a voz. É inexplicável ficarmos deprimidas a fazer a última dieta da moda em vez de fazer como a Beth Ditto e vir a terreiro a amar o nosso corpo e a dizer a uma só voz: kiss my big fat ass.

domingo, outubro 17, 2010